Eu tento. Juro que venho tentando, mas é complicado. Quanto mais procuro, mais leio, mais entendo (aparentemente) e mais confuso fico... Hoje eu sei que fui criado num meio cis-heteronormativo (tem hífen?), binário, patriarcal e branco. Ocasionalmente preenchido com o clássico “Eu não sou (insira o que você não é), mas...” que agora eu entendo que frases que começam assim terminam exatamente com aquilo que você ‘não é’.
Dois temas sobre os quais tenho pesquisado e lido bastante nos últimos meses são machismo/feminismo/sexismo e questões de identidade de gênero e sexualidade. E que têm me trazido cada vez mais respostas, sendo que cada resposta traz uma dezena de novas perguntas. Ou mais. Mas enfim, vamos lá...
Tradicional lar de uma família cristã, espírita (‘kardecista’), cujo pai é o mantenedor que trabalha o dia todo e descansa à noite e a mãe ‘trabalha meio período’ e, quando não está ‘trabalhando’, faz todo o serviço doméstico, incluindo empurrar os três filhos pra pegarem no tranco. Foi ruim? Não, nem um pouco. Pelo contrário, digo que tive uma ótima infância. Poderia ter sido melhor? Bom, nada está tão bom que não possa ser melhorado, eu acho. Mas acho que, de certa forma, a criação foi tão boa, que hoje eu consigo enxergar com alguma crítica a estrutura em que fui criado, questionar algumas coisas e, quem sabe, desmanchar paredes velhas, levantar novas, instalar janelas, e quantas outras analogias forem possíveis aqui...
O que quero dizer é, meu ambiente familiar foi pouco diverso. Todos (ou quase todos) brancos. Cis-héteros (alguém sabe se tem hífen?). Pai provedor, que até ‘ajuda’ em casa, mãe que ‘trabalha meio período’ ou que é mãe em tempo integral mesmo. Fora de casa, na escola, clube e outros ambientes que frequentava (como os centros espíritas), a diversidade era maior, mas ainda era pouca. Escola particular, maioria branca. Alguns orientais, alguns negros, quase nenhum indígena. Identidade de gênero e orientação sexual, todos aparentemente cis-heteros. Mas tudo que fugia do normal era constantemente alvo das nossas ‘piadas’, que não eram ofensivas, desde que dissesse “tava só brincando” ou “ele/ela sabe que é só brincadeira” ou “eu não sou (insira o que você não é), mas...” e, então, é de se supor que provavelmente ninguém assumiria publicamente qualquer diferença naquela época e naquele ambiente. Aprendi a respeitar as diferenças, mas no campo do “mas” e “brincadeirinha”.
Já escrevi sobre isso tempos atrás, acho bem possível que venha a escrever outras vezes ainda, e acho altamente provável que não coloque nenhuma conclusão ou algo sólido e concreto nesses textos. Mas eu quero escrever, então foda-se. E obrigado por ler. Mas a confusão que me fez sentar hoje veio de alguns textos que li sobre intersexualidade. Demorei uma cota de tempo pra entender ‘cis/trans’ e ‘hetero/homo/bi’, e ainda vou levar outra cota pra entender outros prefixos/sufixos/nomenclaturas que descrevem todas as inúmeras possibilidades dentro desse contexto. E hoje, me deparo com mais disso. Descobri hoje que intersexo é a condição (situação? estado? característica?) que, até cerca de meia hora atrás, eu ainda chamava de ‘hermafroditismo’. Não tem nada de ‘ismo’, pois não é doença (embora ainda seja amplamente tratada como tal, infelizmente). E aí começaram a aparecer mais algumas coisas, tipo ‘não-binário’, que me confundem mais um pouco. Mas tudo bem...pois mesmo confuso, descobri que cresci muito. Vinte anos atrás, achava que ser ‘normal’ era se enquadrar nos padrões com que convivia. Hoje, acho que ser normal é estar bem consigo mesmo e ser feliz. Claro, ainda tenho um monte de hábitos e preconceitos pra consertar, mas os primeiros passos já foram dados. E mais do que pensar em mim mesmo, fico feliz por nos ver crescendo como sociedade. A internet dá brecha pros haters e pra vários tipos de escrotidões que, talvez, fossem mais veladas tempos atrás, e foram escancaradas quando os escrotos descobriram que não estavam sós. Mas, assim como os escrotos, todo o resto também não está só. A divulgação do conhecimento é muito mais ampla, a conexão entre pessoas em situações similares se tornou mais ágil e alcança distâncias muito maiores que algumas gerações atrás. Assim, pessoas como eu, que querem entender, desconstruir e reconstruir, encontram conhecimento. E pessoas como todas as que sofreram por vidas a fio podem falar, se unir, e lutar.
Lalala
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