Pois é. "Financiamento recorrente? Que trem é esse?" É um trem divertido, mas vou explicar um pouco melhor. Há um bom tempo já conheço o Catarse, um site de financiamento coletivo que recebe diversos projetos de vários tipos. É bacana, muito bacana, pois permite que esses projetos sejam realizados, e tem alguns muito interessantes, na área de educação, tecnologia, assistência social e literatura e quadrinhos, sendo estas duas últimas minhas categorias favoritas. Nessa plataforma apoiei várias ideias e, assim, adquiri livros e gibis/quadrinhos diversos, junto com vários outros agrados (cartazes, sketchbooks, adesivos, pelúcias, etc). E autógrafos, muitos autógrafos! Claro que sou interesseiro e sempre quero adquirir as produções, mas tem outro lado também: apoiar a produção nacional e independente. Artistas muito talentosos, com ideias originais e interessantes, fantásticas, mas que ficam de fora do mercado.
E há menos tempo, comecei a ouvir falar do Apoia.se, até que uns meses atrás, em muito impulsionado pelo meu irmão, fui atrás de entender esse bagaço. O Apoia.se é um site de financiamento recorrente. Enquanto o Catarse recebe projetos com prazos e metas definidas que permitem apoiar uma vez com a quantia desejada, o Apoia.se recebe projetos nos quais os apoios são uma espécie de assinatura. Sim, assinatura, tipo mensalidade mesmo. Daí você me pergunta: "Mas Fred, você tá dando dinheiro pra esses caras todo mês? Tá sobrando tanto assim?" E eu respondo que é tudo uma questão de interpretação (exceto a parte do "tá sobrando", porque não tá sobrando não, tá tudo bem justinho no final do mês). De uma forma bem prática e fria, estou dando dinheiro pra esses caras sim. Mas na realidade, como disse sobre o Catarse, estou apoiando artistas talentosos, nacionais, nos quais o mercado não tem interesse, mas eu tenho! E vejo essa ferramenta como uma assinatura de revistinhas da Turma da Mônica ou do Mickey, mas muito melhor, na verdade, pois entre os agrados que esses artistas oferecem em troca do apoio, estão inclusos grupos fechados no Facebook (pelo menos, os que apoio oferecem isso) onde tenho contato direto com eles, acompanho o processo de produção, leio tiras exclusivas (que eles produzem apenas para o grupo) e conheço uma cota de gente, de todos os lados, que também participam dos grupos. E os valores são surpreendentes. Dois reais. Cinco reais. Mais barato que qualquer gibizinho em qualquer banca, e eu ainda consigo trocar ideia com o cara que desenha e escreve as tiras! Comecei apoiando apenas três projetos, de quadrinistas que conhecia há mais tempo e já acompanhava. Aos poucos, fui conhecendo outros deles (e os caras se apoiam, você tromba com um quadrinista no grupo de outro e vira uma lambança enorme) e tomando mais contato com mais alguns que já conhecia e acompanhava um pouco mais de longe (vale o mesmo comentário anterior, maior daora!) e acabei começando a apoiar mais projetos nesses últimos meses. E uma coisa muito, muito divertida (pra mim) foi brincar com os quadrinhos deles, e ver que levaram isso na esportiva e até gostaram! Comecei a brincadeira com o Rafael Marçal, que postava os rascunhos das tirinhas sem texto e eu criava um roteiro qualquer a partir do desenho dele, quando uma amiga (a Patricia) que manja dos paranauê da edição de imagens editou uma e colocou meu texto! Mas sobre isso, vou falar depois. Aguardem.
Agora, eu vim falar do Yuri Amaral e da história dele, O Menino que não sabia voar. Foi um dos artistas que conheci depois de começar a participar dos clubes (como chamamos os grupos do Facebook) e que tem um trabalho muito, muito bacana! Muito bonito, muito bem elaborado, muito rico! O cara criou um universo próprio, cheio de detalhes e sutilezas, com um background enorme e todo um enredo pra ser desenvolvido. E o que me divertiu mais (essa semana) foi ele ter autorizado que eu escrevesse algo baseado no universo dele. Como criador da história, poderia simplesmente manter-se fechado e fim. Mas não, é aberto a conversar sobre a obra, escutar, e permite que o universo se expanda também na mão de outros (que nem artistas são, tipo eu). Essa é a versão final da história, faltando só alguns detalhes (como o nome da mãe de Nina), que o Yuri inclusive deve publicar em breve no site d'O Menino. Como eu escrevi, e ele autorizou (tenho print pra provar), vou publicar aqui também, e depois que ele der os toques finais, eu ajusto o texto aqui ou coloco o link pro site dele. E recomendo fortemente que leiam a história d'O Menino e os contos adicionais publicados no site dele. Primeiro, porque é linda! Segundo, porque algumas coisas desse conto não vão fazer sentido sem conhecer o Vale. Enfim, lá vai. Ah, e o projeto dele tá aqui.
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A Viagem
Essa história se passa quando Nina tinha 5 anos, e sua mãe ainda era viva. Cerca de um ano havia se passado desde a tempestade e o Vale ainda estava se recuperando.
Nina era uma menina muito inteligente. Filha de Môra e Fulana, tinha cabelos laranja, de um tom vivo, único, e os usava sempre amarrados em um rabo de cavalo. Tinha apenas cinco anos e já sabia voar. Aprendera no fatídico dia da tempestade. Pouco mais de um ano depois, ela ainda guardava lembranças vivas e dolorosas daquele dia, mas não pensava mais nelas. Tentava se concentrar nas coisas boas ao seu redor, seguindo o exemplo de sua mãe.
Hoje, ela acordou cedo, ansiosa. Sua mãe havia prometido levá-la ao riacho de Kathas. Lá, floresciam as árvores de Katha mais belas de toda a floresta, e era um de seus lugares favoritos em todo o vale. Estava na sala, observando o nascer do sol pela janela, quando ouviu seu pai chamá-la.
- Nina. Já está acordada, tão cedo?
- Papai! – disse e correu para seus braços – A mamãe vai me levar na floresta! Faz dias que ela prometeu e, hoje, nós vamos! Ela já acordou? Hein? Hein?
Ele sorriu e a abraçou. Môra ainda era Comandante da Guarda no Vale. Ou do que restara dela...
- Filha, deixe o papai ir trabalhar – disse sua mãe, entrando no cômodo.
- Mamãe! Até que enfim! Estou esperando aqui faz um tempão! O papai pode ir com a gente? Pode? Pode? Por favor!
- Filha...
- Tudo bem, querida. Nina, o papai queria muito ir, mas dessa vez não posso. Muitos membros da Guarda foram embora, poucos de nós ficaram e precisamos manter a ordem aqui. Mesmo depois de tanto tempo, as coisas ainda não estão totalmente calmas... Aproveite o passeio com sua mãe. Nos vemos no jantar!
Enquanto ele saía, Nina e sua mãe terminavam de se organizar para o passeio.
- Todas vestidas, lanches prontos, cesta carregada. Não achei que terminaria tão cedo, mas já que estamos prontas, que tal irmos em frente?
- Oba! Vamos mamãe!
- Nina! Espere!
A menina já estava do lado de fora, a um palmo do chão. Virou-se no ar e encarou a mãe.
- Nós vamos andando.
- Mas mamãe...
- Andando!
Fazendo cara de choro, Nina voltou ao chão, olhando para a mãe. Fulana olhou para ela, desfazendo sua expressão séria e assumindo outra, de cumplicidade e sem-vergonhice. Agachou-se e sussurrou no ouvido de sua filha:
- Se você segurar minha mão durante todo o caminho, podemos voar até a entrada da floresta.
Abrindo um sorriso radiante, Nina pegou a mão de sua mãe e a puxou para o alto, e ambas partiram.
- Nina, agora vamos descer.
- Mas mamãe...
- Sem "mas". Você mal começou a voar, e a floresta é perigosa, com muitos galhos. Vamos andando até o riacho.
- Ta bom – responde, um pouco emburrada, mas conformada.
Chegando à beira do riacho, estenderam a toalha sob a maior das árvores que encontraram.
- Olha mamãe! As folhas são da cor do meu cabelo!
Fulana riu, olhando para cima. Nina estava em um galho baixo, colocando a cabeça entre as folhas, como se quisesse se misturar à árvore.
- Olha só! Consigo me esconder se eu quiser!
- Consegue mesmo, filha! Por isso coloquei essa roupa azul em você, para não te perder no meio das folhas! É muito perigoso. - disse Fulana, rindo – E olha só, o rio está cheio de flores de Katha! Você sabe o que dizem sobre essa flor, né?
- Não, mamãe. O quê?
- A flor tem poderes místicos! – Disse Fulana, em tom de segredo. – Dizem que ela liga nosso mundo a outros, e que um viajante pode atravessar esses mundos todos se souber usá-la...
Nina arregalou os olhos, surpresa e fascinada.
- É verdade isso, mamãe?
- É o que dizem, filha. Eu nunca viajei assim...
- Puxa, eu adoraria viaj...AAAAAHHHHH!!!!! – A menina se assustou e levantou voo rapidamente, batendo a cabeça num galho acima com força.
- NINA!!! – Gritou Fulana, enquanto via sua filha cair desajeitada em direção ao riacho. – NINA!!!
Perdendo a consciência enquanto caía, Nina não conseguia reagir. A última coisa que sentiu foi o mergulho na água, e então perdeu os sentidos completamente. Começou a recuperá-los quando sentiu que estava sendo retirada da água. Ao seu redor, ouvia muitas vozes, e não apenas a de sua mãe. Falavam palavras que ela não compreendia. Sentia sua cabeça doer. Mãos fortes a levantavam e sentia outras mãos a recebê-la, mas não conseguia abrir os olhos.
- Mamãe... – murmurou.
Percebeu as pessoas ao seu redor se agitarem um pouco, falando depressa, mas não entendia o que diziam. Uma mão tocou sua testa e, em seguida, tocou no alto de sua cabeça, onde mais doía. Foi colocada sentada, com as costas apoiadas em uma superfície dura, parecia pedra. Aos poucos, começou a abrir os olhos, mas a claridade incomodava. Quando começou a enxergar, viu... Muitas pessoas, estranhas. Uma ponte próxima, que não conhecia. Uma rua calçada de pedras, casas com fachadas brancas e portas coloridas, e muitas pessoas. Desconhecidas.
Assustada, arregalou os olhos e tentou se levantar, mas mãos firmes a mantiveram sentada. Levantou-se bruscamente, olhando para cima, e tentou levantar voo, mas não conseguiu. Seus pés saíram do chão, mas ao invés da leveza e liberdade tão familiares, sentiu como se as pedras a puxassem de volta e caiu de joelhos. Mãos firmes a ampararam novamente, colocando Nina sentada outra vez. Além da cabeça, agora também sentia os joelhos latejando e o sangue começando a escorrer dos ralados. Começou a se debater, assustada, gritando por sua mãe e seu pai, até que ouviu algo inteligível.
- Ei, menina! Acalme-se! O que houve?
Era um homem que parecia ter a idade de seu pai, de cabelos escuros e olhos vivos.
- Onde eu estou? Quem é você? Cadê minha mãe? Meu pai?
- Está tudo bem, menina. Venha, vou levá-la comigo. – E, então, Nina viu o homem falando naquele idioma estranho com as outras pessoas ao redor. O grupo começou a se dispersar. Ele a ajudou a levantar, segurou sua mão e começaram a caminhar.
- Onde eu estou? Por que não entendo nada do que eles falam? Por que entendo você?
- Você está em Portugal, menina. Mais especificamente em Porto. Você foi vista surgindo da água, embaixo da ponte Luís I, de onde te tiraram. Você me entende porque falamos a mesma língua, mas isso é estranho, pois não ouço esse idioma há... Muitos, muitos anos. De onde você veio?
- Eu estava no riacho de Kathas com minha mãe, quando me assustei com um bicho e bati a cabeça quando tentei voar. Daí, eu caí no riacho e acordei aqui...
- Voar?
- É... Mas aqui eu tentei, mas não consegui voar. Que lugar estranho é esse? Por que não consigo voar?
- Ninguém consegue voar, menina. Apenas os pássaros. E os insetos. Você devia estar delirando... E esse riacho de Kathas, nunca ouvi falar. Onde fica?
- Fica no Vale, onde eu moro... Quero a minha mãe!...
- Vale? Nunca ouvi falar... Mas acalme-se, primeiro, vamos ver sua cabeça e esses joelhos. Vou te levar até minha casa, onde poderei cuidar de você. Aliás, você pode me chamar de Henrique. É como me conhecem por aqui. Qual seu nome?
- Nina.
Caminharam por cerca de vinte minutos até chegarem a uma casa pequena, com os tijolos à vista e janelas amplas, com um muro baixo que separava o terreno da calçada. Quando entraram, Nina se assustou. Havia várias peças de madeira, de diferentes formatos, penduradas nas paredes, acomodadas sobre uma mesa ampla. Não sabia o que eram, mas eram assustadoras para ela. Vendo sua expressão, Henrique disse:
- Não se assuste, são armadilhas para pássaros. Sou um caçador e é com elas que ganho meu sustento. Venha por aqui, sente-se. Vou primeiro lhe arrumar um pedaço de pão e algo para beber.
Ainda assustada, mas sem saber o que fazer, Nina sentou-se à mesa, onde ele lhe indicou, e aguardou. Enquanto esperava, ouviu um pássaro cantar, distante. De repente, sobressaltou-se com barulho vindo da janela. Olhou naquela direção e viu um pássaro preto, pequeno, brilhante, que a olhava de volta com curiosidade. Dessa vez, não teve medo. O pássaro saltou da janela e voou em direção à mesa, pousando na sua frente. Estendeu a mão em direção a ele, mas o pássaro não fugiu. Pelo contrário, aproximou-se, bicando as pontas de seus dedos com leveza.
- Passarinho... Eu quero voar também, quero voltar pra casa...
Ouviu uma porta se abrindo e, quando olhou na direção do som, viu Henrique, parado sob o portal, olhando em sua direção com surpresa.
- Assum – disse ele. Largou tudo que estava segurando, agarrou uma rede pendurada próxima à porta e atirou-a em direção ao pássaro, mas Nina pôs a mão no trajeto e impediu. O pássaro levantou voo imediatamente, desordenado, rodeou a sala enquanto Henrique tentava pegá-lo com outra rede até, finalmente, sair pela janela. – MENINA! Aquele pássaro, de onde ele veio? – Gritou ele, alterado, os olhos arregalados, vidrados.
- Eu... Eu... Não sei... Nunca vi aquele pássaro antes...
- Você! VOCÊ! Você o atraiu para este mundo. Estou tentando pegar este maldito há muito tempo, para recuperar minha vida e minha família. Já percorri inúmeros mundos, até ficar preso aqui, nesta terra seca de mistérios, mas nunca mais o vi. Mas você... Ele veio até você. Como? Faça ele voltar!
- Mas... – interrompendo-a, Henrique avançou sobre ela, agarrou seu braço e a arrastou em direção a outra porta.
- Pois você vai ficar aqui até descobrir como fazer aquele pássaro voltar. Preciso pegá-lo! Eu preciso daquele pássaro! – Disse com violência, quase gritando, e atirou-a no chão.
Assustada e chorando, Nina deixou-se cair e ali ficou. Escutou Henrique indo e voltando, entrando no cômodo algumas vezes, depositando coisas pelo chão, mas não reagiu, não olhou. Apenas permaneceu encolhida, abraçando as pernas, com a cabeça apoiada sobre os joelhos, chorando até adormecer. Acordou assustada, horas depois, sem saber quanto tempo havia se passado. A porta do cômodo estava fechada e havia apenas uma fresta da janela aberta, por onde podia ver que a claridade do dia já estava diminuindo. Ao seu redor, várias daquelas armadilhas haviam sido colocadas, cobrindo o chão de perigo para qualquer animal que passasse por ali.
Foi quando ouviu aquele canto, novamente. Olhou em direção à janela e o pássaro negro estava lá, olhando-a atentamente. Olhava para ela e saltitava, virando para fora. Saltitava novamente para ficar de frente e, assim, sucessivamente. Parecia pedir que o acompanhasse. Nina apurou os ouvidos e pode escutar, bem baixo, um som vindo dos fundos do terreno. Henrique parecia estar ocupado. Levantou-se devagar e começou a caminhar em direção à janela, na ponta dos pés, com toda a cautela que conseguia. Alcançou a janela e empurrou uma parte para a direita, abrindo metade dela, mas não era suficiente para passar. Tentou empurrar a outra parte, mas parecia emperrada, e precisou fazer mais força. Apoiou-se no chão e jogou o corpo contra a janela, que se deslocou com um estrondo. Assustada, parou para ouvir e não escutou o barulho de Henrique. Rapidamente, subiu no parapeito e, lembrando-se que não podia voar naquele mundo estranho, virou o corpo para fora e começou a escalar a descida, quando ouviu a porta se abrir e Henrique aparecer no portal.
- VOCÊ NÃO VAI FUGIR, MENINA!
Nina se soltou imediatamente e desabou no chão. Levantou-se, olhou ao redor e viu o pássaro sobre o muro. Correu na sua direção e saiu para a calçada. O pássaro levantou voo e pousou sobre um poste, alguns metros à frente, e ela correu em sua direção, já ouvindo Henrique bater a porta atrás de si, gritando furioso.
Sem olhar para trás, Nina correu com toda sua força. Quando se aproximava, o pássaro voava e pousava alguns metros a frente, como se lhe indicasse o caminho. Suas pernas ardiam, sua cabeça latejava e os joelhos doíam, mas Nina continuava a correr, ouvindo seu carcereiro gritar atrás de si. Nina apenas perseguiu o pássaro, sem olhar ao redor. Quando deu por si, estava se aproximando daquela ponte outra vez.
- Passarinho! Assum! Me espere!!!
O pássaro continuava a voar em frente, sempre mantendo alguns metros de vantagem, em direção à ponte. Nina desviava das pessoas, que a olhavam assustada. Algumas, respondendo aos gritos de Henrique, tentaram segurá-la, mas ela se esquivava e continuava correndo, até que chegou à ponte. O pássaro pousou no meio da ponte, sobre uma barraca de frutas. Nina correu em sua direção e, dessa vez, ele não fugiu. Ela escalou alguns caixotes até atingir o parapeito da ponte. Atrás do balcão da banca, uma mulher gritava palavras que ela não entendia, enquanto tentava se desvencilhar e alcançá-la. Nina estendeu a mão em direção ao pássaro, que levantou voo tão logo sua mão o tocou, seguindo em direção ao rio. A menina olhou para trás e viu Henrique gritando e se aproximando, e a mulher saindo de trás do balcão e vindo em sua direção. Esquecendo-se que não podia voar, Nina saltou atrás do pássaro. Subiu alguns centímetros com o impulso do salto, mas sentiu as pedras puxando-a novamente e caiu, rodopiando no ar até atingir a água com força e perder os sentidos.
- NINA!!! NINA!!! ACORDE!!!
Nina abriu os olhos, assustada, agitada, e sentiu braços quentes e molhados a envolverem.
- Filha! Por Assum! Você está viva! – Ouviu a voz familiar de sua mãe. Olhou ao redor, estava novamente na floresta do Vale.
- Mamãe! Eu consegui voltar!!!
- O quê? Do que está falando, filha?
- Eu viajei para outro mundo, mamãe! E... E... Foi assustador! Eu não podia voar, e tinha um homem mau que me prendeu! Mas foi ele, mamãe! O pássaro, Assum, ele quem me salvou!
- Está tudo bem agora, filha. Você não foi a lugar algum, apenas ficou alguns minutos desacordada. Nós estamos aqui ainda. Foi só um sonho...
- Não, mamãe, não foi! O homem mau era caçador de pássaros, e tinha um monte de gente falando coisas estranhas, e eu tentei, mas não conseguia voar e...
- Sshhh... Pronto, meu bem. Está tudo bem agora, fique calma. Foi só um susto. Você bateu a cabeça e caiu no rio, mas eu te tirei da água rápido. Foi só um sonho...
- ...foi?...
- Foi sim, meu bem. Mas não se preocupe, está tudo bem agora – disse Fulana, envolvendo Nina em um abraço de mãe.
Nina deixou-se abraçar, sentindo o calor de sua mãe. Deixou-se levar pelo que ela disse, também, e acreditou ter sido só um sonho. Aquilo não poderia ser verdade, outros mundos... Ela bateu a cabeça e desmaiou, mas tudo ficou bem... Ainda que os joelhos ralados tentassem lhe dizer o contrário...
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